Bangu, campeão, com sobras, de 1966: 3 a 0 no Flamengo
Em 1966, o Bangu conquistou
seu segundo título carioca com uma equipe muito
bem montada, fazendo bela campanha, com 15 vitórias,
dois empates e apenas uma derrota, para o Flamengo,
no primeiro turno.
Mas a revanche veio na final do Campeonato, e teve
o sabor especial. Contra o Flamengo, no Maracanã,
o Bangu provou que, naquele ano, tinha a melhor equipe
da cidade. A vitória por 3 a 0 - gols de Ocimar,
Aladim e Paulo Borges - foi pequena diante da superioridade
banguense na decisão e poderia ter sido maior,
se Almir não tivesse iniciado a confusão
que provocou nove expulsões - cinco para o
Flamengo e quatro para o Bangu -, obrigando o árbitro
Aírton Vieira de Moraes a encerrar a partida
aos 25 minutos do segundo tempo, garantindo o título
ao Bangu após 33 anos.
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Na
tarde de 18 de dezembro de 1966, o maracanã
recebia cento e quarenta mil torcedores para assistirem
a decisão do campeonato carioca daquele ano.
Mais de cem mil eram torcedores do Flamengo. Eles
tiveram que assistir em silêncio o barulho que
a pequena torcida do Bangú fazia para comemorar
um titulo que perseguia a trinta e três anos.
A torcida do Flamengo estava de bandeiras arriadas,
enroladas, sem ânimo sequer para perceber que
a noite caia e já era hora de ir embora. A
festa pertencia ao Bangú. Não importa
que não tenha sido uma festa como a torcida
queria, sem manchas, limpa, bonita, resultado normal
de noventa minutos de excelente futebol. Futebol que
poucos times sabiam praticar como o Bangú daquele
ano.
Entretanto, a história foi bem diferente. A
partida não terminou. Os jogadores brigaram.
A torcida brigou. Cenas de violência e ódio
que acabaram por inscrever na história do futebol,
não apenas o jogo decisivo, mas a imagem definitiva
de um homem que fez dos gramados sua praça
de guerra, num misto de herói e vilão:
Almir, cujo destino fez com que ele morresse, moço
ainda, na porta de um bar, sete anos depois. Almir
foi assassinado a tiros em Copacabana.
O Bangú que chegou a última batalha
depois de dezoito jogos, vencendo quinze, empatando
dois e perdendo apenas um. Ubirajara. Fidelis. Mário
Tito. Luis Alberto e Ari Clemente. Jaime e Ocimar.
Paulo Borges. Ladeira. Cabralzinho e Aladim foi o
grande time do campeonato carioca de 1966 e muito
bem dirigido pelo treinador Alfredo Gonzalez. O Flamengo
na decisão era um time cheio de problemas técnicos
e psicológicos. Valdomiro. Murilo. Jaime. Itamar
e Paulo Henrique. Carlinhos e Nelsinho. Carlos Alberto.
Almir. Silva e Osvaldo.
Aos três minutos do segundo tempo, a maioria
dos torcedores rubros negros estavam calados. O placar
de 3x0 para o Bangú era um sinal evidente da
derrota, pois, além da diferença nos
números, o adversário dominava o jogo.
Os caminhos da reação pareciam fechados.
Vinte e seis minutos e tudo estava na mesma. De repente,
o futebol acaba, cedendo lugar a uma das maiores confusões
já registradas no maracanã.
O lateral Paulo Henrique se preparava para cobrar
um lateral quando Ladeira tentou impedir e provocou
o jogador do Flamengo. Paulo respondeu com palavrões
e recebeu uma bofetada do atacante do Bangú.
Almir estava ligado na partida e disposto a tudo para
não aumentar a humilhação. Era
demais para uma tarde só. Primeiro, os frangos
de Valdomiro, que mais tarde foi acusado pelo próprio
Almir de ter se vendido. Depois, as contusões
de Carlos Alberto e Nelsinho. Agora, o tapa de Ladeira.
Almir perde inteiramente o controle.
Partiu, desesperadamente, na direção
a Ladeira, que prefere correr, mas em direção
a zaga do Flamengo. Itamar, um negro forte de 1,85
e chuteira 43, pula com os dois pés no peito
do atacante, que cai. Almir que vinha correndo chutou
sua cabeça. A esta altura, o gramado do maracanã
já era palco de uma verdadeira loucura coletiva.
Ari Clemente do Bangú, vem por trás
de Almir e agride o pernambuquinho. Imediatamente
é cercado por Silva. Itamar e o próprio
Almir. A torcida do Flamengo, até então
calada com a derrota, resolve agitar suas bandeiras,
como se cada soco, cada pontapé, valessem como
um gol que o time não conseguiu fazer. E num
desabafo começa a gritar - Almir, Almir, Almir.
Ladeira deixa o campo de maca. O juiz Airton Vieira
de Moraes, conversa com o treinador Reganeschi, que
consegue tirar Almir do campo. Mas, quando Almir vai
descendo o túnel ouve alguém gritar
- "Volta Almir. Acabe de vez com festa deles".
Foi o suficiente. Ele dá meia volta e parte
novamente para o gramado. É ameaçado
pelo goleiro Ubirajara e lhe dá um soco. É
cercado por Ari Clemente, Mario Tito, Luis Alberto
e Fideles. Almir começa a distribuir socos
prá todo lado. Bate e apanha. Silva e Itamar
correm em seu socorro. A muito custo, os policiais
conseguem dominar Almir e levá-lo definitivamente
para fora do campo. Sua saída lembra um lutador
de box deixando ringue após um combate. Os
espectadores se dividem em vaias e aplausos. No meio do campo, o juiz Airton Vieira de Moraes resolve
expulsar cinco jogadores do Flamengo: Valdomiro. Itamar.
Paulo Henrique. Almir e Silva. E mais quatro do Bangú:
Ubirajara. Luis Alberto. Ari Clemente e Ladeira.
Futebol não teve mais. Os banguenses deram
a volta olímpica com poucos aplausos. A torcidas
do Flamengo vaiava e grita o nome de Almir.
O Bangú construiu sua vitória a partir
dos 24 minutos do primeiro tempo. Ocimar cobrou uma
falta de fora da area e marcou 1x0. Três minutos
depois o Bangú aumenta para 2x0 através
de Aladim. No intervalo, Almir avisou a todos que
estavam nos vestiários do Flamengo. "Eles
não vão ter volta olímpica".
Foi com esta disposição que o Flamengo
voltou para o segundo tempo. E logo aos três
minutos Paulo Borges marcou o terceiro gol. A partir
deste gol, o Bangú partiria para uma goleada
histórica.
O time estava bem, contrastando
com um Flamengo que mais lembrava um moribundo. A
briga, enfim, somente aquele tumulto poderia transformar
o panorama da partida. E mudou... O Bangú foi
o merecido campeão carioca de 1966, principalmente
pela regularidade de sua campanha.
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